VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA MULHER

Por Lucia Tiemi Nakata |

Um momento de reflexão e empatia.

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*Créditos da imagem: MPMG

Assustadoramente o índice de violência contra mulher tem se elevado consideravelmente, nos últimos dois anos, isto ganhou grande destaque nas mídias, não somente pelo estado crítico de privação da nossa liberdade por uma doença nova e assustadora, como por estarmos mais atentos ao que nos rodeia, seja para o bem ou para o mal.

Além destes fatores, temos algo que vibra nos olhares da grande população brasileira, que é uma certa telenovela que trouxe escancaradamente uma das violências domésticas que mais acontecem, que é muitíssimo divulgada, e mais, que a grande maioria das mulheres que passam por tal ato, sequer entendem se tratar de uma violência.

A violência Psicológica é a mais difícil de ser apontada, pois trata, exclusivamente dos atos falados, escritos e quais as consequências psicológicas que causa naquela mulher que as recebe.

Veja que aqueles “apelidinhos” podem não ser um carinho, mas uma ofensa, como “Bruaca”, “Gorda”, “Feia”, “Tribufú”,” Magrela”,” Zoinho” e tantos outros que se perdem em conversas e contextos ainda piores.

Fazer a mulher se sentir inferior, dizendo que ela é feia e que nenhum homem irá desejar ela como ele, é umas das frases mais faladas por homens abusadores, outras tantas, como você tem que dar conta de arrumar a casa, lavar minhas roupas, cuidar das crianças, fazer minha comida e ficar disponível para eu te usar é uma tão comum quanto a outra, e ambas ferem psicologicamente a mulher que culturalmente acredita que deve manter um casamento a todo custo.

Algo tão feroz e abalador é viver numa sociedade que pergunta como a mulher ouve e vive isso não larga esse homem? Pois, os índices estão aí para responder, a grande maioria tem medo de morrer, pois é, grande parte das mulheres sentem medo da violência física que esse homem pode causar, ainda que ele não as tenha feito, seu tom e estilo de fala para com ela, lhe causa temor e grande angústia, leva muitas a ansiedade e depressão, e que essa mesma sociedade julgadora, classifica como drama, frescura, loucura.

A outra parte, não sabe como sobreviverá sem os recursos que aquele abusador lhe oferece, ainda que o que lhe concede economicamente seja ínfimo, ela se preocupa, quando é o caso, com seus filhos, o que comerão, onde dormirão, como ficarão, a maioria das mulheres se preocupa com o bem-estar de seus filhos, em outros casos, em si, como sobreviverá?

E ainda que existam milhares de pessoas dizendo eu te ajudo, a realidade se afasta imensamente disse, atualmente, dentre 10 pessoas que falam que ajudarão, cederão ou estarão próximas àquela mulher que já encontra-se frágil, 1 realmente ajuda, 2 ajudam a sair e acreditam que depois a pessoa deve se reerguer sozinha (mesmo não possuindo nem psicológico, nem conhecimento para tanto), 3 nem lembram que falaram que ajudariam, e 4 fingem que não falaram nada e crítica àquela mulher a outras pessoas.

A verdade, que ainda que seja muito fácil falar sobre o assunto, a vivência desta violência é extremamente penosa e difícil, primeiro que nossa sociedade eclodiu do machismo, e um homem que fala àquelas frases, está certo e uma mulher que separa dele por este motivo, é uma perdida, que quer ficar gozando de uma vida de “madame”.

Segundo, pois, os primeiros a criticarem são aqueles que estas mulheres buscam para lhes auxiliar, que é a família. 

Terceiro, pois, aqueles que tanto as “apoiaram” para fazer a ruptura, dizendo que ajudariam, somem no primeiro momento.

Por isso, tantas outras retornam ao convívio daquela violência, pois, não conseguem se reerguer e ter a assistência necessária para recomeçar, se tiverem filhos, pior ainda, pois, não conseguem emprego, não conseguem ajuda.

O primeiro passo para mudar é mudar a consciência social, e infelizmente andamos a passos lentíssimos e quase mortos, a nossa própria justiça é ineficaz e em alguns casos tão machista quanto a sociedade.

A mulher vive violências diárias, no ônibus, no emprego, na sua família, no seu círculo de amizades, mas principalmente daqueles que deveriam zelar por seus direitos com maior afinco, as instituições criadas para isso, em alguns casos não oferecem assistência, ou pior, ignoram o pedido.

Por isso, antes de qualquer coisa, precisamos, nós mulheres, olharmos para nós e àquelas ao nosso entorno com algo extremamente raro hoje em dia, que é a empatia.

Após inúmeras tentativas, não localizei nenhum local que realmente prestasse assistência imediata e real a mulheres vítimas de violência, nesta jornada na advocacia, me deparo com casos reais que necessitam de assistência, pela situação abusiva, mas principalmente pela falta de amparo social e psicológico, e que muitas vezes, fazem estas mulheres retornarem ao terror de um “lar” horrível.

Por isso, onde se há mais necessidade de amparo, o amparo não chega de fato, a maioria dos casos ocorrem em locais totalmente escassos, onde o acolhimento desde o momento da ruptura e o recomeço de uma vida sadio, é extremamente imprescindível para que estas mulheres não retornem ou convivam novamente com a violência que tanto querem se afastar.

A maioria dos casos de retorno aos braços de seu abusador é resultado exatamente da falta de políticas pública e atuação legítimas da iniciativa filantrópica e particular, por isso, acredito que se realmente alguma entidade que cumpra eficazmente tal função, eu desconheço, exatamente porque depois de ver e ouvir tantos relatos destas mulheres, apenas posso concluir que se elas existem ainda não vi, e se existirem e quiserem se manifestar fico a disposição de mudar o meu discurso, de que as entidades que se grandificam por tal atuação só as fazem para “àquelas” que possam dar a elas destaques nas mídias.

Antes de finalizar, busquei sim, diversos locais para prestar assistência, mas depois de tantas histórias e situações, sinto sendo verdadeiramente útil fazendo meu trabalho de formiguinha e tentando ajudar o máximo de mulheres que seja possível.

E você, que busca assistência, não tenha medo, tente, e acredite, existe um mundo de pessoas boas e que realmente se interessam por vocês, e com toda certeza irão lutar contra o machismo nas instituições e defender seu direito e sua dignidade como realmente você merece.


Lucia Tiemi Nakata

Especialista em Direito Civil, Família, Previdenciário, Tributário, Trabalhista e Consumidor.